Day: 12/11/2007

Lançamento de Livro: Hegemonia

capa2c.jpgLivro prevê a migração em massa para a realidade virtual Por Antônio Ramos

Imagine se a nova droga fosse a realidade virtual, criando uma verdadeira migração em massa a ponto de deixar o governo preocupado com a “debandada” geral? Quem vai trabalhar ou mesmo defender a nação dos ataques inimigos? Esse é o cenário da saga “Hegemonia” que vai ser lançada dia 8 de dezembro pela editora Arte & Cultura em todas as livrarias do Brasil. O autor é o jovem jornalista Clinton Davisson que causou polêmica há alguns anos quando propôs misturar ficção científica com futebol no divertido “Fáfia – A Copa do Mundo de 2022”.

Em um projeto mais ambicioso, Clinton passou sete anos escrevendo o que chama de “início da saga”. Correndo contra a corrente da ficção científica hard em geral, o autor capricha no cenário hightech sim, mas foca a história em personagens bem construídos e multidimensionais. A começar pelo protagonista, o jovem Ron Schowlen não é nenhum Harry Potter, certinho e cheiroso. Embora simpático, o personagem é vítima da ousadia literária de Clinton, pois o primeiro livro é, na verdade, um diário neural, que registra todos os pensamentos de Ron, sejam eles sensatos, ou não. “A idéia é mexer com o leitor e dizer: e se gravassem seus pensamentos? Você pensaria só coisas boas? Ou seria flagrado pensando em matar seu vizinho que escuta som alto?”, provoca o autor.

De fato, Ron guarda uma grande semelhança, assumida pelo autor, com Severo, personagem do livro “O Ventre” de Carlos Heitor Cony. “Ele é um cara de mal com a vida e que vai crescendo e amadurecendo durante o livro”, avisa Clinton que aceitou o risco de criar um personagem que, a princípio, pode parecer um chato, mas que conquista o leitor pela complexidade. “Ele está mais para Raskólnikov, ou Conan, do que para Luke Skywalker. Ele tem sim, grandes ideais, mas tem medo, insegurança e raiva”, revela.

Em um dos momentos mais quentes do livro, Ron tem sua primeira relação sexual e deixa o diário ligado. A descrição da cena, narrada pelo próprio Ron, é arrebatadora. Outra questão abordada no livro é a religião, algo que costuma ser pouco explorado na ficção científica. Para cada raça encontrada no livro, o autor criou uma ou mais religiões específicas, cada uma mais controvertida que a outra.

A fuga da realidade

A história de “Hegemonia” mostra uma civilização que alcançou a perfeição tecnológica e social, mas enfrenta um problema inusitado: seus cidadãos migram em massa para a realidade virtual, como as pessoas de nosso mundo se refugiam nas drogas. É como se fossemos para a Matrix por vontade própria. “Se você olhar o problema das drogas hoje, é algo muito surreal, pois, a pessoa destrói sua vida e sustenta organizações criminosas em troca de cinco minutos de prazer. Imagine então se o prazer for eterno?”, sugere o autor

Apesar das inspirações literárias que vão de clássicos como Herman Mellvile e Dostoievski, até autores modernos como James Joyce, Clinton, que também é roteirista, se confessa fã de cinema. “As pessoas costumam colocar uma muralha separando o mundo erudito da cultura de massa e isso é absurdo. São duas coisas diferentes, mas que estão interagindo constantemente”, afirma, tomando como exemplo a saga Star Wars. “George Lucas criou uma mitologia moderna ao mesmo tempo em que fez uma espécie de resumo da história do cinema. Mas, hoje em dia, encontramos cada vez mais acadêmicos que reconhecem o valor de Star Wars e Star Trek na cultura moderna. Quantos engenheiros da Nasa não buscaram a profissão influenciados por Star Trek? Negar isso, dizendo que se trata apenas de um produto de consumo imediato e ralo, é tão ruim quanto dizer que Machado de Assis é algo inacessível, que só pode ser entendido por acadêmicos”, alerta.